Dentre sombras e escombros ela vem,
me atordoa só de olhar...
me atordoa só de olhar...
Ao mesmo tempo seu olhar silencioso
me seduz e me encanta,
me seduz e me encanta,
Faz com que eu me entregue...
Mas nas sombras ela vive...
Então ela me leva até as sombras...
Naquela penumbra de árvores negras e gélidas
Mata virgem de cheiro forte que não sei de que é
Lá onde ela dorme, lá onde
não quero nem dizer como é
não quero nem dizer como é
Lá mesmo...
Se fazendo de luxúria me convida e eu vou de pura vontade
Vou escutando seu canto maligno
Canto que me dá medo e desejo
E andando nessa mata silenciosa
que nem pássaros tem,
que nem pássaros tem,
Apenas cigarras ensurdecedoras
incomodam meu pensar,
incomodam meu pensar,
É Ela que me encontra
E antes que eu grite aterrorizado com sua aparência,
Me arranca logo a língua, com suas unhas que mais parecem pequenas facas serrilhadas
Como eu ainda insisto em gritar
ela decide me calar...
ela decide me calar...
Com toda a calma e delicadeza de uma costureira costura meus lábios
Costura com apenas um fio de seus longos cabelos ásperos e espinhentos
E olha no fundo de meus olhos arregalados
Seus olhos são como vidro e cristal branco..
E sem pupilas ela enxerga tudo ao seu redor...
Enxerga na mais escura negridão da madrugada
E o que não enxerga ela escuta...
Feito isso ela arranca meus cabelos com suas unhas de serra e seus dentes..
Dentes que são negros e resistentes
como minério de chumbo
como minério de chumbo
São como os nossos dentes só que são maiores.
Depois de me deixar sem pêlo algum no corpo
Me banha com mel e lama
Me pendura em uma grande árvore
E faz com que os cupins me mordam
até eu desfalecer
até eu desfalecer
E com aqueles insetos em todas as partes de meu corpo encharcado de lama
Antes que eu morra ela me tira de lá
E me coloca em uma grande pedra amarrando-me com trepadeiras e cabelos
Dali ela fica a me admirar...
Cada gemido, cada estralo de
meus ossos a queimar no sol
meus ossos a queimar no sol
Cada erupção de sangue em minha pele já flácida
de tanto sofrimento
de tanto sofrimento
Pra Ela é um prêmio, medalha coisa valiosa
Mas ela não me mata, e nem me come
pois me quer podre
pois me quer podre
É isso que o desejo dela
Ela quer minha carne podre
E passados uma tarde e meia em fim morri.
_______ Davson Sobral________
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