terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Ela

[Realmente esse é um ótimo conto dá mesmo medo]

Dentre sombras e escombros ela vem, 
me atordoa só de olhar...
Ao mesmo tempo seu olhar silencioso 
me seduz e me encanta,
Faz com que eu me entregue...
Mas nas sombras ela vive...
Então ela me leva até as sombras...
Naquela penumbra de árvores negras e gélidas
Mata virgem de cheiro forte que não sei de que é
Lá onde ela dorme, lá onde 
não quero nem dizer como é
Lá mesmo...
Se fazendo de luxúria me convida e eu vou de pura vontade
Vou escutando seu canto maligno
Canto que me dá medo e desejo
E andando nessa mata silenciosa 
que nem pássaros tem,
Apenas cigarras ensurdecedoras 
incomodam meu pensar,
É Ela que me encontra
E antes que eu grite aterrorizado com sua aparência,
Me arranca logo a língua, com suas unhas que mais parecem pequenas facas serrilhadas
Como eu ainda insisto em gritar 
ela decide me calar...
Com toda a calma e delicadeza de uma costureira costura meus lábios
Costura com apenas um fio de seus longos cabelos ásperos e espinhentos
E olha no fundo de meus olhos arregalados
Seus olhos são como vidro e cristal branco..
E sem pupilas ela enxerga tudo ao seu redor...
Enxerga na mais escura negridão da madrugada
E o que não enxerga ela escuta...
Feito isso ela arranca meus cabelos com suas unhas de serra e seus dentes..
Dentes que são negros e resistentes 
como minério de chumbo
São como os nossos dentes só que são maiores.
Depois de me deixar sem pêlo algum no corpo
Me banha com mel e lama
Me pendura em uma grande árvore
E faz com que os cupins me mordam 
até eu desfalecer
E com aqueles insetos em todas as partes de meu corpo encharcado de lama
Antes que eu morra ela me tira de lá
E me coloca em uma grande pedra amarrando-me com trepadeiras e cabelos
Dali ela fica a me admirar...
Cada gemido, cada estralo de 
meus ossos a queimar no sol
Cada erupção de sangue em minha pele já flácida
de tanto sofrimento
Pra Ela é um prêmio, medalha coisa valiosa
Mas ela não me mata, e nem me come 
pois me quer podre
É isso que o desejo dela
Ela quer minha carne podre 
    E passados uma tarde e meia em fim morri.    
_______ Davson Sobral________      

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